raspas de chocolate meio amargo (ou 70% cacau) chantily batido à mão
canela em pó
No restaurante:
- Um café e o conto, por favor! Caroline Poirey
Receitas Café com Conto
Onda cítrica
150ml de café chocolate 80% cacau raspa de casca de laranja baunilha masserada
Himalaia
2 colheres de pó para cappuccino
leite
2 bolas de sorvete de creme
2 tabletes de chocolate alpino
bater no liquidificador
cobrir com canela (a gosto)
Piacere
Café
calda de caramelo
tablete de chocolate com menta
baunilha masserada
Acqua ombra
Café licor de cacau essência de baunilha
Dolce Vita
200ml de café uma colher de sorvete vanilla praliné chantily em spray uma colher de castanhas em pedaços raspas de caramelo e baunilha calda de caramelo para sorvete
(besuntar o copo com caramelo, jogar o café por cima, cobrir com chantily, castanhas e a raspas de caramelo e baunilha)
Cococafé
150 ml de café 1 trufa de côco 1 colher de chá de côco ralado chantily canela
Ouro Negro
200ml de café 2 doses de licor frangélico 1 trufa de licor de amarulla
Loki
café
Leite condensado
cravo em pó
essência de baunilha
Helena
400ml Café gelado (deixar na geladeira depois de fazer) Duas doses de licor de amarula Duas colheres de sopa de pó para o preparo de cappuccino Duas bolas de sorvete de creme Dois suspiros Canela em pó
Bater tudo no liquidificador
Cravo café II
150ml de café 4 pitadas de cravo em pó raspas de sorvete de creme
O cravo é colocado com o pó do café no momento do preparo. Com o café pronto e fumegante adicionar as raspas de sorvete de creme e mexer.
Café Slante
200ml de café 1 colher de sopa de erva doce 1 colher de sopa de pimenta branca
fazer 20 minutos de chá de pimenta branca. juntar a erva doce no coador junto com o pó. passar a água lentamente.
Vietkong
Café Kim Lai (pré-digerido por um tipo de guaximim vietnamita) Leite condensado
(simples assim)
Café Fatale
Café Chá de sementes de pimenta Hortelã Gengibre
Café feito com o chá das sementes de pimenta. Hortelã junto com o pó no momento de fazer o café. Gengibre batido.
Macadâmia Café
200ml de café 3 suspiros 1,5 bola de sorvete de macadâmia
(bater à mão) - sorvete não vai gelar o café
Cacaufé Amarula ao Creme
200ml de café 2 bolas de sorvete de creme 1 dose de licor de Amarulla 2 colheres de sopa de chocolate em pó
bater no liquidificador
servir frio ou quente.
Alfenas
Bater: doce de leite + chantily + sorvete de creme (colocar em xícara transparente) Adicionar: granulado de chocolate Completar com: Café (fica em 2 camadas)
Café-cereja ao creme
200ml de café 1 trufa de creme de cereja 1 cereja Chantily
(liquidificador em tudo, depois chantily por cima)
Sri Lanka
Dois a três paus de canela pré-aquecidos no forno por 20min.
Café puro
Modo de fazer: cronometrar para que o café fique pronto quando os paus de canela estejam há 20min no forno. Colocar os paus de canela no café pronto e servir. Adoce a gosto.
Cacau
200ml de café
1 trufa de cacau
1 colher de sopa de pó para cappuccino
Cobertura da chocolate quente afogada
Chantily + Chocolate em pó (sobre o chantily
Trufaccino
150ml de café 1 trufa de cappuccino 1/2 colher de café de baunilha em pó 1/2 colher de café de caramelo em pó 1/2 colher de café de canela em pó
Pretória
1 dose de licor de amarula 3 bolas de sorvete de creme 1 colher de sopa de café solúvel 5 pitadas de canela (liquidificador)
no copo: cobertura de caramelo (besuntada) chantily e granulado de chocolate por cima
Tulipa
250ml café ghini 2 trufas holandesas 2 colheres de chá de caramelo com canela (moído) 1 gota de essência de baunilha
Cupulate Marula
1 bombom de amarula 1 trufa de cupuaçú 200ml de café
Kakaoalpen
3 pedaços de toblerone 1 colher de sopa de chocolate em pó 200 ml de café
Novi Ligure
150 ml de água 1 dose de grangélico - na cafeteira italiana - 1 bombom alpino - no liquidificador -
Amorino
200ml de café 3 nozes 1,5 colher de sopa de calda de chocolate quente
liquidificar bem
Ligúria
150ml de café 50ml de licor Frangélico 10 folhas de hortelã (infusão junto ao pó do café)
adoçar a gosto
Labiata
200ml de café três serras 50gr de caramelo com baunilha em pó 7 pitadas de canela 7 folhas de hortelã
(tudo junto na cafeteira italiana) Adoçe a gosto
Ipanema
400 ml café tradicional Café do Ponto 150 ml de licor de côco 1 trufa de côco 1/2 prestígio
(liquidificar por 1minuto e meio)
Lilith
300 ml café premium três corações 2 colheres de sopa de leite condensado light 1 trufa Mezzo (meio chocolate branco meio chocolate preto) 150 ml de licor de côco
Pecado Original
1 maçã fatiada 1 sachê de chá de maçã 200ml de água: tudo no bule.
200ml da água do chá de maçã usada para fazer o Café do Ponto Aralto
4 pitadas de canela 1 colher de sopa de leite condensado
Persicafé
200ml de água
1 trufa de pêssego (Purunus pérsica)
2 colheres de leite condensado light
Liquidificar tudo
Ps: É possível adicionar um quarto de pêssego fatiado na mistura.
Piña Café
300ml de Café Segafreddo
1 trufa de piña colada
1 nhá benta
liquidificar tudo!
(não adoçar)
Odisséia
250ml de chá de semente de pimentas variadas com noz moscada (ferver por 1 hora e trocar constantemente a água para engrossar o chá)
no qual serão feitos 250ml de café segafreddo intermezzo
1 trufa de chocolate com pimenta
derreter a trufa no café e tomar
Cappuccino Fitness
3 "scoops" (5 colheres de sopa) de Whey Protein de Baunilha
3 colheres de sopa de cappuccino três corações
300 ml de leite desnatado gelado
Bungee (jumping) Café
250 ml de café Três Serras
2 pedaços de gengibre
1 colher de sopa de cobertura de chocolate com menta
4 gotas de essência de rum
açúcar a gosto
Pangea
1 bala halls preta na cafeteira italiana junto com o pó do café
150ml de café três corações extra forte
1 colher de sopa de cobertura de sorvete sabor chocolate com menta
Leite desnatado 50ml
Açúcar a gosto
Cappuccino Ice Trufas II
250 ml de leite desnatado gelado 4 colheres de sopa de Cappuccino Canela Melitta 2 trufas de chocolate belga
(liquidificar tudo)
Lasciv
2 trufas de cereja 50 ml de licor de cereja 1 colher de sopa de leite em pó integral 1 bola de sorvete de café itália 200 ml de café pelé (fervendo) 4 pitadas de canela em pó
(liquidificar tudo)
Sonatta
250ml de café do Ponto Aralto 1,5 colher de sopa de leite ninho 1 colher de sopa de Nutella Salpicos de granulado de chocolate
Cafécolate
300 ml de café melitta 300 ml de leite desnatado 2 colheres de sopa de leite em pó integral 10 pitadas de canela 2 colheres de achocolatto 3 corações 3 chocolates de menta (after eight)
Cappuccino Ice Trufas
350ml de leite desnatado gelado 5 colheres de cappuccino canela Café Pelé 2,5 bolas de sorvete creme e trufas Kibon (liquidificar tudo)
PS: Pode-se adicionar uma trufa de chocolate ou café na receita.
Café com Leite Light
Café Cafeeira Blend Fazenda 150ml
Leite desnatado 1/3 xícara
Açúcar mascavo 1,5 colher de sopa
6 pitadas de canela
1 colher de sopa de cobertura de caramelo colocada dentro do copo
ps: Fazer o café no filtro de papel, deixar cair sobre o copo já com leite e servir sem mexer.
Café Jolie
200ml Café Pimpinela golden 3 colheres de chá de Leite integral em pó 1 bola de sorvete de flocos 4 gotas de essência de amêndoas
adoce a gosto!
Gourmet 01
1 sachê de café Gourmet do Ponto sabor Chocolate com trufas 3 colheres de sopa de ovomaltine completar com leite e espuma de leite
Cafécolate menta
300ml de café Melitta 300ml de leite desnatado 2 colheres de sopa de leite em pó 10 pitadas de canela 2 colheres de sopa cheias de achocolatto três corações 5 chocolates de menta (After Eight)
Adoçe a gosto.
Cappuccino Caseiro
250 ml de Café Favorito na cafeteira italiana 1,5 colher de sopa de leite Ninho (ou outro integral em pó) 1 colher de sopa de Cobertura de caramelo para sorvete 5 pitadas de canela em pó. açúcar a gosto
opção: mexer com um canudinho de canela em pau.
Cappumelo
2,5 colheres de sopa de cappuccino Taeq 1 colher de sopa de café solúvel Melitta 3 colheres de Leite Ninho 400 ml de leite desnatado (gelado) 4 colheres de sopa de cobertura de caramelo para sorvete
Bater no liquidificador. A receita é gelada, mas se quiser fazer quente basta aquecer os 400 ml de leite.
Delicioso
300ml de água + 3 colheres de sopa de leite Ninho 3 bolas de sorvete de creme 1 xícara grande de café melitta 4 colheres de leite condensado light cobertura de caramelo
Bata tudo no liquidificador Besunte o copo com caramelo antes de servir
Entre amigos:
- Traz um café que eu te conto. Caroline Poirey
Cappuccino Moça:
1 colher de sopa de Nescafé Tradição 2 colheres de sopa de cappuccino Taeq 3 suspiros 300 ml de leite quente 2 colheres de sopa de leite ninho 1 tubo de Moça "top" de doce de leite.
Modo de preparo I: Todos os ingredientes (exceto o moça "top") no liquidificador. Ao servir besuntar o copo com o Moça "top" de doce de leite levemente. (Não é necessário adoçar) Canela opcional
Modo de preparo II: Utilize leite frio, não adicione gelo.
Cravo-Café
250ml de café orgânico três corações 1 peneira recheada de cravos essência de baunilha
Modo de preparo: Fazer o café na cafeteira italiana. Passar para a xícara/caneca len-te-men-te através da peneira com os cravos. Adicionar a essência de baunilha e adoçar a gosto.
Esse projeto já está finalizado!!! Conheça o Café com Conto 2!!! + 52 contos e 52 receitas!
Nenhuma crise. Nenhum remorso. Olhos adiante. Nada houve sobre seus livros numa sala defensiva armada no último cômodo da casa. Nada de importante. Ele lápide levitava sua enorme culpa tal qual distendia sobre o peito verborragias copiadas de Shakespeare, nenhum incômodo. Talvez torturasse as palavras forçando vômitos e outras guturalidades entre a folha e a caneta, o que gerava uma certa diarréia literária sem utilidade, fugacidades em livre associação, tentativas broxantes de uma orgásmica rima perfeita naquele poema sem estrutura. A descoberta o transfigurara. Sexo não escreve bem. O orgasmo resultou inútil, o Frontal resultou inútil, chá de camomila, banho quente, punhetas atrás de punhetas e a mente inerte, inútil. Punhetadas literárias, punhetadas Socráticas, punhetadas Kafkianas, punhetadas com Vinícius, nada. Sequer teve coragem de abrir Drummond. Sim, quisera se embebedar, mas não, é Drummond. Respeito. Ainda havia um mínimo de decência sobre o cadáver, adiado, sequer procriava, sequer homem, sequer banalidades, sequer poesia. Movimentos rítmicos sobre a folha, chamex, papiro, pensamentosdesordenadoslongoscurtosbaixosaltos megalomania, complexo de inferioridade. Pensava em definir liberdade num início de conto, ou poesia, ou crítica, jornal, livro, revista. Cecília! Me embebedo, sem dó! Pôs-se a "Ceciliar" varanda adentro sobre a rede pincelando poemas nas nuvens. Nada seu, nada livre, de original nem a morte. "Quadro arremessa Barata Ribeiro sobre poeta triste".
Comera pouco, toda a noite sob um bate-estacas infinito entre vultos de carne translúcida e as rusgas d´água que lhe tatuavam a testa e os seios. Uma pílula e uma garrafa d´água. Mãos entrelaçadas sobre a cabeça e o quadril levava todo o corpo na cabeça que pendia de cabelos negros encharcados de sorriso em suor. Sete lábios sobre sua boca, quatorze mãos sobre sua pele, pescoço, cintura, costas, coxas. Era tão certa e de tão lívida foi-se cálida e azul, era toda azul sob aquela luz negra que envidraçava os olhos, sombras engarrafadas. Desceu de um pé que deslizou perdendo-se entre outras duas pernas que em tropeço levaram o pouco de sanidade que inda borboleteava frente aos seus olhos que se embaçaram (envergonhados). De uma noite havia levado o que pensava fosse a liberdade, de uma festa havia restituído toda solidez que lhe dera o mundo, perdeu-se em abrir-se em flor para um manequim oco, era nada. Dos toques líquidos que se perdem no vácuo onde haveria atrito, sente que de tanta liberdade, ela mesma não a quis.
O cavalete estava ao canto da sala. Mudo. Todo o atelier era um degradê em cores frias. A estética estática das paredes incomodava e eu me perdia em girassóis ambulantes. Havia castelos gemendo torres num coito morte e caos, estrutura em transe estendendo preces tijolares, órbitas globulares cinzas de crianças assistiam pasmas ao tango incendiário entre quatro estátuas: Zeus, Apolo, Afrodite e Eros. Vísceras se contorciam, olhos de crianças cinza tremulavam, Zeus urgia céus, exposto, Apolo flamejava o mundo, Afrodite chorava, dançava e ria, louca, e Eros cortava os pulsos – gilete Hefestos – . Vertejam as vértebras, aorta-se o lírio divino pelos rios do mundo e, na insânia da egonia cósmica Zeus e Apolo se fritam, Afrodite desintegra-se em flor, regada do sangue filial, salgado, viscoso e vil, degenera e morre. De seu reino submerso Eu-Hades sento no sofá, coço o saco, pego uma latinha e ponho no Animal Planet.
Estava com sono. Vi as folhas do texto que tive dois meses para revisar, aquelas folhas virgens. O prazo é hoje, daqui a algumas horas - pensei. E me estranhei na frase. Muitas vezes não estava preocupado com nada além do fato de não estar preocupado com nada. É que não me parecia ser coisa de homem sério, essa não preocupação. E, por alguma razão, era importante ser sério, como ser homem. Não digo da heterossexualidade, digo da hombridade mesmo. Peguei os Kinder Ovos que comprei na farmácia. Sempre paro em farmácias. Na verdade as farmácias são as minhas papelarias da noite. Eu odeio chocolate. Odeio é exagero, é que eu não ligo mesmo. Precisava de um elemento surpresa na minha vida. À uma e meia da manhà, voltando da Cobal do Humaitá e com umas trinta páginas para escrever para dali a oito ou dez horas, o kinder me parecia a única surpresa possível. Comprei três. Se não gostasse do primeiro e do segundo poderia manter o terceiro fechado, colocar nele todas as surpresas que quisesse, na geladeira. Abri. Até comi o primeiro e o segundo chocolates, mesmo sem vontade. Mastiguei aquela massa bicolor doce e gordurosa porque precisava ver a surpresa e no carro da Joana não tinha onde colocar o chocolate. Ela também não quis.
Na bagunça de micropecinhas dentro do ovo transparente - que costumava usar como ogiva de bomba com tinta, era fácil: colocava água com corante numa parte e fermento na outra, junta, balança e arremessa - vi um extraterrestre, cinza, capacete azulado transparente com antenas. Era "Zupt"! Eu tenho essa coisa de ficar dando nomes. Olhei pra ele e "Zupt", era Zupt. Mais tarde descobri que as pecinhas eram da nave de Zupt.Como não faço ocm a vida, segui o manual de instruções. Estava com sono, não dava tempo de teimar em ser original, ignorar as instruções e monstar um trator para Zupt. Foi nave espacial mesmo. Abri o segundo chocolate. Não vi o que tinha no ovo. Joana parou o carro. Hora de gentileza, ela também estava com sono. Agradeci a carona, corri pra casa. No caminho caí na asneira de verificar ao Paulo, um dos porteiros da noite, que já o tinha visto na noite anterior. Perguntei - que fique bem claro, era retórica! - se não davam descanso a ele. Chamei o elevador, que já estava no térreo. A porta não abriu. Paulo resolveu me contar, desde o Big Bang que os avós fizeram na pororoca, a história da vida dele. Chamei o elevador. Paulo me falava das horas, jornada de 12 horas de trabalho e descanso de 36. foi a única frase que ouvi. Tive pena. A porta não abriu. Paulo virou sua cadeira para os elevadores, como se me chamasse, à uma e meia da manhã, com trinta folhas de dois meses para redigir lá em cima, pra sentar ali, passar algumas horas, aliviar a carência. Lembrei que às vezes o elevador semi-trava de madrugada, era preciso abrir com as mãos. Paulo me falava de filhos. Pensava o quão ridícula seria a cena: Puxo papo com Paulo; Paulo se empolga; chamo o elevador; ele não abre; abro as portas com as mãos e entro. Ridículo, completamente ridículo. Vai pensar que estou cagando para o que ele pensa. Sem saber o que é retórica vai sacar o sentido da pergunta, o interesse era fachada para polidez necessária. Por algum motivo era importante ser educado, como ser sério. Um casal chegou. Abri a porta para 'eles'. Paulo desceu. Se a diferença entre meus olhos e meu umbigo é sempre a mesma então foi Paulo quem desceu.
Não pude conter a curiosidade. Fiquei nu. É o comum ao chegar em casa. Nu meti a mão no saco. Peguei a segunda ogiva - ri de Deus ter me dado talento para desenhar e tocar piano, de resto tenho a coordenação motora de uma criança de 4 anos, cortar em linha reta ou abrir uma ogiva de Kinder Ovo é uma odisséia. Abri. Dessa vez não identifiquei nada. Nda mesmo. Direto nas instruções. Era o K03 n.51 (ah, agora sim!!), um parafuso sobre uma base de rodinhas que movimentava uma engrenagem dentro de uma base azul. Sem graça. O parafuso tinha uma cara. Sorridente. montei o treco. Era "Squetch", ou "Roc", ou "Crok", tinha que ser algo que desse o som de um parafuso sendo torcido - eu não sei um verbo para um parafuso. Torcer, colocar, introduzir, enfiar, girar? Não escolhi o nome. Ou escolhi. Era "Parafuso". Pronto, coloquei os dois me olhando enquanto digitava as páginas do trabalho. Parafuso tinha os olhos tortos. Num relance percebi, tentei ser discreto mas não sei se dei na pinta. Percebi que Parafuso tinha um olho em mim e o outro em Zupt! já passava das duas e meia. Estava com sono. Era minha cabeça. Fui pegar gelatina. Ligar Enya baixinho para escrever. Voltei, agora com os ouvidos e a boca ocupados. Relance. Não era minha imaginação, Parafuso estava fria e fixamente vidrado em mim e em Zupt! Percebi. Parafuso era uma espécie de super-ego. Tava me vigiando, vigiando meu Zupt! Qualquer viajada que eu desse no meio do trabalho ele estaria ali, olhando, pros dois. De repente não dava pra pedir carona, simplesmente não dava para "Zupt!" para fora do trabalho e começar a escrever outra coisa, ligar a tevê, gravar mais doze CD's nem procurar uma gráfica nas amarelinhas, mandar imprimir cartõs de visitas. Era eu, o trabalho e Parafuso. Apesar da carcaça azul, Parafuso era (ainda é) cinza. lembrei da Gestapo. Depois de meses sem meter as caras, Parafuso era inevitável. Esse foco, esse aprofundamento, essa concentração de massa, tensão e força sobre um único ponto. Parafuso era complementar de Zupt. Não digo oposto em nome da originalidade e porque está tarde para acordar a distinta senhora Dona Dialética. que dorme cedo e permanece intacta. Na realidade somente Parafuso era necessário no momento. Precisei de Zupt apenas para reconhecer Parafuso. Simples, básico até. Parafuso é Parafuso porque não é Zupt. E vice e versa. Lembrei da Gestapo. Recomecei a escrever as folhas outras, trabalho antigo, prazo breve. Dei-me conta de que jamais abrirei o terceiro ovo.