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quarta-feira, 17 de março de 2010
Vingança perfeita (ou Mulheres e sapatos)
Ele não conseguia deixar de pensar nela. Mas isso é porque havia uma história. Num carnaval passado haviam ficado juntos a semana toda. Segunda vez que estavam juntos, sendo que da primeira - quando se conheceram - ela estava tendo as primeiras férias depois de três anos ininterruptos a serviço de uma grande empresa. Largou uma viagem de um mês para ficar quatro semanas na casa dele. Talvez o excesso de proximidade repentina, talvez uma xícara "para o melhor namorado do mundo" no aniversário dele, no fundo não sabe. Tudo muito rápido, tudo muito denso e intenso um espaço de tempo minúsculo como se um suspiro mais profundo fosse estourar aquela bolha de ar sentimental. Ele não resistiu. Se afastou.
Depois veio o carnaval, trazendo antes da hora o vazio sentimental da quarta feira de cinzas. E ele viu a xícara e o telefone lhe veio à orelha e a campainha trouxe ela de volta. O carnaval mostrou a distância entre gostos e a lua de mel do primeiro mês se esvaiu por entre os dedos dela, que não largavam o playstation dele, e os dele, que experimentava mil perucas para sair nos blocos. O tiro no peito dele foi o Oscar, no fim do carnaval, o bloco na esquina, ele na porta e ela querendo ver o Oscar - "porque a Angelina estava muito magra, mas o Brad lindo..."
Então eles se separaram. Os meses trouxeram pessoas que não trouxeram sintonia e derrepente não era de todo ruim que ela gostasse do video-game, até que ver o Oscar sentindo o perfume dela passou quase a ser uma obsessão. E o telefone veio à boca e campainha ficou muda. Ela estava namorando. Foi quando bolou a vingança perfeita.
Passeando por um bairro vizinho ao seu, desceu os olhos sobre um par de sandálias que ela sempre quis. Entrou - entre os sorrisos das vendedoras para o provável "melhor namorado do mundo" -, comprou. Dez prestações na Nine West. Passou numa floricultura, um buquê de rosas colombianas e um cartão vermelho.
Finalmente trocou o telefone por um rádio, novo número, nova vida. Bloqueou e excluiu ela de toda virtualidade possível, orkut, facebook, msn, twitter, até os e-mail's dela marcou como spam. Era o melhor momento.
Às nove horas da noite, voltando da academia, ela encontrou um buquê gigantesco de rosas na portaria, enfiado na sandália mais linda que ela já vira. Estranho... só o pé esquerdo. Do lado de dentro um cartão: "Game over. Thank's for playing."
Conto e Receita: Renato Kress
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13 comentários:
Vejo várias histórias conhecidas aí... Grande beijo!!!
Ficou ótimo! Já estava sentindo falta.Bj
Hummmm, interessante receita. Agora sim, + uma light ;)
Claro, adorei o conto também. Único, singelo e direto.
Pena terminar assim essa loucura toda.
Abraço...
Quero seu colinhoo
^^
acho que está apaixonado pela mulher do sapato...haha
Mt legalll esse conto menino :) adoreiiii!
Queria viver uma história parecida, só que... com final feliz é claro. :)
Nossa, essa história me é um tanto familiar... mas não entendi o final! rs
Lindo conto, lindas palavras como sempre!
Vc é muito especial!
Bjsss
Ale
Acabo de entrar pra uma comunidade: "Adoro Comédia Romântic@"... tua história entro bem no clima... Gostei muito... mas sinto falta das estantes... nem vou mas bagunça-las... ninguém vai arruma-las mesmo...rsrsrrs
A fila anda mas homem não aceita perder, não é? Ele pira, quer se vingar e outras cositas mais ... quer saber, eu iria atrás do outro pé do sapato...kkkk
Ameei, mto bom, realmente Renato vc não existe, mto criativo. Beijos
E as histórias continuam sem seus pares... Os jogos começam e terminam incessantemente. Antes de mais nada, sagaz, rápido e com uma prosa que prende o leitor.
Comédia romântica, suspense, humor negro...Várias facetas. Só falta um livro ou quem sabe um trabalho ainda mais abrangente como uma peça de teatro, um filme...
Um bom escritor sabe sempre inovar e trazer a estória famíliar ao seu leitor!
Visitinha ao seu dom de escritor... Sabe que sou fã incondicional e sinto falta da sua inteligência... mas acompanho sempre... Abçs querido!!!
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