sexta-feira, 19 de março de 2010

Um ornitorrinco na rave



Porque era bizarro mesmo. Foi uma aposta de quatro intercambistas, em dois mil e cinco. Hans e Paollo disseram a Thalia e Sabrina que iam levar um ornitorrinco prum trance em Melbourne. Thalia tinha a estranha mania de levar um ornitorrinco de pelúcia para as festas e tiravam várias fotos do bichinho de óculos escuros, tomando red bull e até nadando numa piscina somente com mulheres, isso deu aos dois rapazes a idéia inicial: "e se fosse um de verdade?"

Aquela idéia passou a ser cada vez mais surrealmente divertida e estranha, principalmente porque os mamíferos ovíparos com cauda de castor e bico de pato vivem presos em cativeiro, no escuro, em ambiente aquático. Perceberam que em Melbourne a segurança dos viveiros é praticamente impenetrável, o que excitou mais ainda o ânimo dos amigos. O clima todo era de missão impossível e os rapazes ficaram dias bolando a melhor estratégia e o melhor ponto para se conseguir um espécime.

Tentar caçá-lo ou capturá-lo além de crime ambiental provavelmente ia levar os estrangeiros, alemão e italiano, a serem deportados, na melhor das hipóteses. Pesquisaram o animal na wikipedia e descobriram que o bicho, além de tudo, deveria ter parentesco com escorpiões também, afinal "O macho tem esporões nos tornozelos, que produzem um coquetel venenoso, composto principalmente por proteínas do tipo defensivas (DLPs), que são únicas do ornitorrinco. Embora poderoso o suficiente para matar pequenos animais, o veneno não é letal para os humanos, mas pode causar uma dor martirizante e levar à incapacidade." - ok, luvas de borracha! Visitaram virtual e pessoalmente os cativeiros mais próximos, analisaram o sistema de segurança de cada um dos santuários como Healesville e o parque da vida selvagem David Fleay e, depois de decidir raptar um de uma cidade bem longe, procuraram as rotas de fuga no google maps.

O plano ficou simples: Paco - o ornitorrinco de Thalia - seria o dublê. Um carro com os dois seguiria para o hotel Hilton de Brisbane, onde uma família de adoráveis quadrúpedes esquisitos era mantida para a diversão de seus abastados hóspedes e a segurança parecia mais... "relapsa". A ida, passando por Shepparton, Moree e Warwick era fornecida como o caminho mais rápido, predizendo vinte e uma horas de viagem. Nessa hora poderiam obedecer às rotas indicadas como preferenciais, mais rápidas, a volta é que era o grande enigma. Atravessar o deserto australiano via st. George e seguir um retão até girar noventa graus em Cunnamulla, seguir até Cobar e passar por cidades nada turísticas como Wilkannia e Broken Hill, descendo de volta até Melbourne, esse acabou sendo o caminho mais interessante, mesmo levando um dia e seis horas de viagem.

Chegando em Brisbane, um dia antes do festival de música eletrônica em Melbourne, Hans alugou uma pick-up, deu uma volta na cidade e voltou para a concessionária, alegando que o carro estava com um barulho esquisito e que ele preferiria trocar. Falando com uma certa pressa em visitar a namorada fictícia e fazer uma surpresa, acabou saindo com o segundo carro e indo direto ao Hilton. Enquanto isso Paollo estava observando o aquário negro onde os ornitorrincos nadavam, alheios ao bate estaca que em pouco mais de um dia envolveria algum felizardo contemplado com a possível fama instantânea, no lugar daquela água negra. Os dois amigos passaram pelo mesmo corredor, caminhos opostos, como se não se conhecessem. Paollo carregava uma gaiola envolta num papel de presente com Paco dentro. Hans estava com as mãos nuas.

Cinco minutos após se cruzarem Hans passa com o animal pingando nas mãos, os seguranças correndo atrás! Paollo tenta interceptá-lo, mas os dois se chocam e Hans é capturado. Paollo sai xingando, com seu pacote de presente, Hans é levado para dentro do hotel com a gaiola. O plano de trocar de carro, fechar contrato com um e levar outro na locadora pra despistar a polícia e fugir com aquela prova do humor de Deus parecia frustrado... ou não?

Um dia depois está na primeira página dos jornais locais de toda a Oceania, as fotos de Paquito, o ornitorrinco de óculos Oakley e camisa Ecko nadando na psicina de bolas, com Paollo, que teve que ser resgatado porque, num acesso de carinho com o mascote da festa, perdeu o movimento do lado direito do corpo e não conseguia sair da piscina, de onde foi retirado por policiais australianos.

Conto e Receita: Renato Kress

7 comentários:

Unknown disse...

que loucoo

Unknown disse...

amanha vc vai escrever de que?
leio o de hje pensando no que essa mente brilhante pensará amanha..haha

ânja disse...

rsrsrrsrr...
concordo pelnamente com a GabrieELA

Renato Kress ®Ҝ disse...

brilhantismo e insanidade são a mesma coisa? hahaha beijos e obrigado pelo elogio

Celia Marli disse...

Gostaria de saber de onde vc tirou a inspiração pra escrever esse conto? Mente fértil hein gato, muito doido esse conto mas gostei de saber um pouquinho mais sobre esse bicho esquisito e tb da localização geográfica detalhada do roteiro, pq será hein? rsrsrs
Bjs

Maria disse...

Como vc já sabe: odeio onitorrincos.. coisinhas mais horrorosas... risos. Então seria tendenciosa, mais risos. Mas vc é sempre demais anjinho leonino!!!
Beijocas

Anônimo disse...

Gosto tanto q escrevi de forma incorreta: ornitorrinco - pronto, feita a correção do nomezinho dos horrendos, rs.

Se você pudesse transformar 12 contos do Café com Conto em curtas-metragens, quais seriam?